domingo, 19 de janeiro de 2014

[0494] CIDADE VELHA 1492 publica pela primeira vez neste espaço um texto do Dr. Pedro Silva, patrono da Biblioteca de Cidade Velha - No caso, sobre a cidade portuguesa de Coimbra, onde tantos cabo-verdianos estudaram e estudam

Pedro Silva
COIMBRA, A CIDADE DO CONHECIMENTO

Publicação feita inicialmente na revista brasileira História Viva (Rubrica "Destinos").

Coimbra - Imagem antiga
Famosa por sua universidade, a mais importante de Portugal, Coimbra também tem um clima romântico da mitologia da primeira capital de Portugal. A cidade, durante séculos, também foi um centro intelectual “além-mar” do Brasil, nos períodos coloniais e do império.

Desde o século II a.C. o local hoje conhecido por Coimbra já era habitado. Primeiro sob a égide do Império Romano e, por volta de 711, os árabes chegaram, trazendo a cultura islâmica. É assim que a cidade funda as suas bases históricas, em uma fusão de culturas. Quando, em 1139, d. Afonso Henriques a torna capital do futuro país, Coimbra já é uma cidade madura, centro aglutinador de comércio. O rio Mondego, que rasga geograficamente a cidade, torna-a mais encantadora, encontrando-se com o mar ali perto, em Figueira da Foz, onde desagua no oceano Atlântico.

Túmulo de Inês de Castro - Mosteiro de Alcobaça
A cidade também foi palco do mais badalado e trágico romance da história portuguesa. No século XIV, algozes a mando de d. Afonso IV – Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco – degolaram Inês de Castro, a grande paixão do futuro rei de Portugal, D. Pedro, no mosteiro de Santa Clara. Isto levou a uma guerra civil entre irmãos, que terminou em agosto de 1355 com um tratado de paz proposto pela rainha Beatriz. Dois anos depois, Afonso falece e Pedro surge como oitavo monarca na linhagem portuguesa. O episódio toma contornos violentos quando, em Junho de 1360, o novo rei legitima os seus filhos com Inês, confirmando ter casado secretamente com esta em 1354. Depois perseguiu pessoalmente os assassinos da sua amada e todos foram executados (diz a lenda que a dois deles o coração foi arrancado, um pelas costas, outro pelo peito).

A história trágica do amor de Inês e Pedro é contada no canto III de Os Lusíadas, de Luís de Camões;

Coimbra - A Universidade 
“Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxutos,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas”.

Na actual Quinta das Lágrimas, há uma entrada para o lugar mítico onde, supostamente, Inês de Castro teria sido morta. Portanto, não é de estranhar que ervas avermelhadas dêem a impressão de ainda haver sangue no local, e a lenda de que as lágrimas vertidas pela donzela teriam enchido a actual fonte que ali jorra, de forma incessante, uma límpida água que alguns consideram como virtuosa no campo do amor.

Estudante e "tricana"
Coimbra é, acima de tudo, um local de ensino. A universidade já tinha existido antes em dois períodos distintos, 1309-1336 e 1354- 1377. Mas a principal razão para o título de cidade do conhecimento deve-se a, em 1537, d. João III ali ter fixado a actual Universidade de Coimbra (na época chamada de Estudos Gerais), que tornou possível o crescimento local ao redor deste pólo de cultura. Num ápice surgiram igrejas e colégios, dando ao povo religião e conhecimentos fundamentais na época.

De lá para cá, a cidade académica não parou de crescer e hoje em dia é um exemplo vivo de como cultura, centro histórico e modernidade conseguem conviver, de forma harmoniosa, em conjunto com a beleza natural de uma região.


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